Rafael Bluteau, Vocabulario de synonimos, e phrases portuguezas, Supplemento ao Vocabulário Portuguez e Latino, II, Lisboa, Patriarcal Officina de Musica, 1728, 57-424.


O dicionário de sinónimos de Bluteau filia-se numa tradição de compêndios latinos, em que se entrecruzam a exploração das relações de sentido e o inventário de exemplos para uso literário, e que desde o século XVI vinham conhecendo adaptações às línguas vernáculas. O investimento neste género de compilações advém sobretudo do valor que a retórica barroca concedeu à sinonímia, aproveitando as equivalências de sentido na construção de amplificações. Entre as obras latinas que configuraram os dicionários poéticos e os dicionários de sinónimos importa destacar Epithetorum opus (1541) de Ravisius Textor e Epitheta M. T. Ciceronis (1570) de Nunes de Valença.

No que respeita às recolhas em francês, que poderão ter constituído uma influência motivadora ou informadora, refira-se Synonymes et epithètes françoises (1645) de A. de Montméran, que associa os epítetos aos sinónimos, integrando o material reunido no século anterior por Maurice de la Porte (Les epithetes […] livre non seulement utile à ceux qui font profession de la poësie, mais fort propre aussi pour illustrer toute autre composition françoise, 1571).

Em Portugal, a prevalência do barroco literário no início do século XVIII condiciona o primeiro dicionário de sinónimos que, tal como as obras europeias similares, privilegia a informação poética e literária. No prólogo, Bluteau explicita que se trata de um instrumento auxiliar, para «abrir o caminho para descripçoens, ampliaçoens, e engenhosas expressoens em prosa, e em verso» (Supp., II, «Voc. de syn.»: 58-59».

«A muitos parecerà pueril, ou inutil este opusculo. A mim me pareceu muito necessario. O mais eloquente Rhetorico, o mais sutil Philosopho, o mais sabio Jurisconsulto, o mais profundo Thelogo poderà necessitar delle. A qualquer delles, que no idioma Portuguez queira compor em materias da sua profissaõ, synonimos lhe seraõ precisos, por naõ repetir muitas vezes o mesmo vocabulo, ou para ornar com a variedade das dicçoens o seu dizer. […] Conheço, e confesso, que Synonimos, sem prudente moderaçaõ amontoados, embaraçaõ a oraçaõ […] mas naõ he razaõ, que por este inconveniente se condene o uso delles; porque no nimio, e naõ na mediana està o vicio» (ibidem: 57-58).

O facto de não ter conhecido uma edição autónoma não retira importância a esta obra precursora, que influenciará compilações subsequentes e de largo uso, como o Diccionario poetico (1765) de Cândido Lusitano. Os aspectos relativos ao conceito de sinonímia, a selecção e seriação das unidades lexicográficas apresentadas como sinónimos, a técnica lexicográfica e as valências poético-literárias foram já objecto de um estudo de Evelina Verdelho («Lexicografia sinonímica portuguesa: O Vocabulário de Synonimos e Phrases, de Rafael Bluteau, e o Ensaio sobre alguns synonimos, do Cardeal Saraiva», Biblos, 57, 1981, pp. 171-221)


in J.P. Silvestre, Rafael Bluteau e o Vocabulario Portuguez e Latino. Aveiro, 2006, pp.  351-352


  Vocabulario de synonimos, e phrases portuguezas (1728)
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